….( Série Histórias e Lendas )…. A LENDA DO PASSARALHO

 José Luiz Mendes Gomes 

A primeira vez que ouvi falar no Passaralho foi em fins dos anos 70. Nesta época eu trabalhava numa grande siderúrgica e como a própria época era auspiciosa para obras de engenharia, havia obras a dar com pau. A área da empresa era imensa, havia até uma ilha, batizada pela peãozada como “Ilha do Chamego”. Era nessa ilha que ficavam os canteiros de obras das Gatas e Gatinhas. Na primeira oportunidade que tive pra saciar minha curiosidade do porque Ilha do Chamego, com um funcionário mais antigo da siderúrgica, a explicação que obtive foi que numa certa noite, haviam flagrado dois funcionários do Turno B acomodados em justaposição dentro de um tubo de BSTC de diâmetro 1,20m. E mais: Devidamente agasalhados com as propriedades aparentemente aconchegantes de uma Manta Bidin.

Bem, fato é que a lenda atribuía ao inusitado flagra o nome dado à ilha. Mas, voltando ao assunto inicial, ao propriamente dito Passaralho, em certa noite em que tivemos que nos sujeitar à uma dobra, lá pelas tantas da madrugada eis que no afã de nossas atividades, ouve-se um grito lancinante, engolido pelo silêncio noturno.

Na sala estava eu, Bambu e Carlão. Carlão era o encarregado. Bambu ganhou esse apelido por motivos óbvios, magro e alto como a própria planta bambusácea, e segundo comentário geral, no início não aceitou a alcunha, geralmente sua resposta vinha rimando com o próprio apelido. Foi Bambu que imediatamente após o grito ouvido falou: É o Passaralho atacando novamente. Era a primeira vez que ouvia falar do dito cujo. Bambu até tirou da gaveta uma ilustração, uma espécie de retrato falado de como supunha-se que era o Passaralho.

Supunha-se, porque, segundo ele, nunca ninguém havia ficado frente a frente com o Passa, até porque ele gostava de pegar os incautos por trás. Comentava-se que tinha uma pegada forte. Diziam que o Passa era uma espécie de primo do Carcará, aquele que “pega, mata e come”, só que pelo menos o Passa não era dado a matar… só pegava e comia…

Bem, vida que seguiu, a obra terminou e eu, como todo trecheiro, trabalhei em mais umas dezenas de Gatas e nunca mais ouvi falar no Passaralho. Até que recentemente, vim a trabalhar numa obra de duplicação de estrada. Certa vez, estava conversando com funcionários mais antigos e, conversa vai, conversa vem, alguém menciona o temido nome: Pas-sa-ra-lho. O interessante é que me pareceu, pelo que comentavam, que o Passa já não era aquele de antigamente, não se mencionou ataques, como nas obras da siderúrgica. Bom, é bem verdade que já haviam se passado mais de trinta anos, quem sabe o velho Passa já não estava aposentado? Procurei saber então o que o dito cujo havia aprontado. Vim a saber que o Passaralho naquela obra era um obelisco que havia sido implantado na construção da estrada anterior, chumbado numa encosta rochosa, e como o traçado geométrico da duplicação passava exatamente no local, houve a detonação, não sem antes removerem o obelisco que recebera a alcunha do Passa. Fato é que ainda assim, teve sua importância tal naquela obra que teve que ser até aberto um Centro de Custos só para ele, pelos serviços inerentes.

Antes de terminar a obra ainda tive notícias que o Passaralho estava sob custódia de importante funcionário da Gata, que destino o mesmo ia ter, nunca soube. Mas o que me levou a escrever este conto, foi que, trinta anos depois que ouvi falar pela primeira vez no velho Passa e três anos depois que ouvi falar pela segunda vez, eis que na semana passada, vistoriando uma obra de saneamento, ouço novamente o famigerado nome: Passaralho. Não me contive e cheguei na conversa do Mestre de Obras com o Carpinteiro. Fiquei sabendo que eles também já tinham ouvido falar no Passa. Um deles até jurou de pés juntos que um amigo seu tinha sido molestado numa obra de uma barragem, mas, os dois tinham informações, não sei conseguidas onde, que o Passaralho daqui pra frente passaria a ser apenas uma lenda, pois arrumou uma Passareta e sumiu no trecho…

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2 comentários

  1. Lendas ou acontecimentos reais? O Trecho sempre foi fascinante. Trabalhei numa obra no Rio de Janeiro lá por volta de 1985, em plena Cidade de Deus e sabem como é ou era a Rádio Peão, cheguei também a ouvir casos do famoso Passaralho.

  2. Que coisa, também ouvi falar no tal Passaralho numa obra que trabalhei em Tocantins. Parece que esse Passaralho é ou era trecheiro, hein?

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