Entrevistado: Engenheiro Egydio H. Neto ( Porto Alegre – RS )
Entrevista realizada em 08/06/2015
Assunto: Concreto Armado – A Proteção Do Aço Pelo Concreto
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POENARCO: Uma das não conformidades mais recorrentes quando se trata de atividades concernentes ao concreto estrutural é normalmente atribuída à problemas relacionados com o recobrimento do concreto em relação a sua ferragem. Estatisticamente este é o problema que provoca mais patologias no concreto?
ENG. EGYDIO: Eu não tenho estatísticas que possam comparar as ocorrências de diversas patologias entre si. Mas diria que este é um fenômeno deletério que faz parte da vida e da morte das estruturas de concreto. E é responsabilidade nossa, dos Engenheiros pois determinar o cobrimento é uma das Especificações do concreto no Projeto, o que define a sua vida útil. A seguir, na elaboração do traço do concreto adequado à obra – dimensões das peças, densidade de armaduras, técnica de adensamento – elaborado em laboratório por um Engenheiro Tecnologista experiente e no final, com a retirada de escoramentos e formas na idade correta, respeitando as resistências e módulos mínimos do concreto, se completará o círculo de proteção da obra.
POENARCO: Considerando-se que a ferragem no concreto tem por finalidade absorver os esforços de tração, como poderíamos explicar os exemplos abaixo, ilustrados com fotos?
Exemplo 1: A concretagem de sapatas de fundação onde é simplesmente lançada uma fina camada de brita e por conseguinte posicionada a ferragem, sem espaçadores laterais e na base da sapata;
Exemplo 2: A concretagem de um piso para Quadra Poliesportiva, onde verifica-se a concretagem sobre a lona plástica mas observando-se claramente a ausência de espaçadores. O resultado temos nas fotos sequenciais, após a cura do concreto.
Exemplo 3: Um outro problema que é normal verificar-se em obras, seja de pequeno, médio ou até grande portes, é que além da negligência com os espaçadores, vemos os operários pisando diretamente sobre a ferragem, procedimento aliás que, mesmo tendo espaçadores não seria correto. São pouquíssimos os casos em que observamos procedimentos corretos, com utilização de uma passadeira na concretagem, como observa-se na sequência de fotos.
ENG. EGYDIO: Os exemplos são bastante ilustrativos e a resposta está nas próprias fotos. Não podemos prescindir de uma base rígida e plana sob os espaçadores, para que eles mantenham as armaduras firmes e posicionadas em seus locais previstos em Projeto. No primeiro caso há necessidade de se compactar perfeitamente a área de apoio da sapata no fundo da escavação, a seguir apiloar uma fina camada de brita (20mm) e sobre ela colocar uma lona plástica para receber uma camada de concreto “magro”, de pelo menos 5cm de espessura, bem curado e com pelo menos 7 dias de idade (para resistir ao peso da armadura e evitar que os espaçadores não “afundem” no concreto). O mesmo se faz necessário no caso dos pisos industriais onde recomenda-se sempre uma sub-base rígida (solo-cimento, concreto “magro”, brita graduada tratada com cimento, são exemplos) depois lona plástica, o perfeito posicionamento das armaduras, com espaçadores pouco distanciados entre si evitando deformações durante a concretagem a seguir da placa estrutural de superfície. As fotos mostram que a não existência de uma base firme e impermeável, faz com que a nata e a argamassa do concreto migre para as britas e o terreno abaixo, sem se incorporar à estrutura, e o resultado é a armadura e todo o sistema de proteção ausente. Finalmente, a ocorrência ilustrada no Exemplo 3 demonstra a falta de orientação do Encarregado em relação à sua equipe, que, sem procedimento claro, adota o pragmatismo de “não fazer nada”, mesmo sabendo que sua atitude resultará em uma péssima solução, uma obra defeituosa. Mesmo com passadores é preciso estudar previamente como será seu apoio entre as armaduras e como será deslocado a novas posições sem agredir as armaduras. A presença de operários sobre o concreto ou com os pés mergulhados em concreto é sempre errada. A obra deve abrir frentes planejadas, sempre com acesso a distância, através de rodos de cabo longo e passarelas para movimentação de operários e equipamentos sem encostar nas armaduras e no concreto, durante o processo de lançamento e acabamento da superfície.
POENARCO: Ainda explanando sobre ausência de espaçadores, um outro exemplo que é recorrente, é quanto a ferragem utilizada nas capas de lajes pré-fabricadas. Normalmente a mesma é simplesmente posicionada sobre as vigotas e lajotas sem espaçadores, ou seja, a ferragem não fica inserida na capa de concreto. Nos exemplos abaixo, os mesmos estão corretos?
Exemplo 1: No procedimento incorreto a ferragem fica entre as lajotas e a base da capa de concreto; no procedimento correto a ferragem fica inserida na capa de concreto.
Exemplo 2: Dependendo do tipo de laje-pré-fabricada utilizada, há casos em que a vigota treliçada fica numa altura superior as lajotas, o que permite posicionar a malha de ferragem sobre as mesmas com isso obtendo um espaço considerável para o recobrimento do concreto e garantindo sua finalidade estrutural. Pode-se desconsiderar a utilização de espaçadores nestes casos?
ENG. EGYDIO: No primeiro exemplo fica clara a situação de não-conformidade pois a armadura estará não apenas desprotegida, acessível aos agentes deletérios do ambiente, como não constituirá parte da estrutura, como prevista em projeto. Este tipo de obra é perigosa pois aparentemente, após a concretagem, o aspecto final será bom mas esconderá uma situação errada e pouco tempo depois começarão a surgir trincas, deformações e, na presença de água, revelar escorrimentos de ferrugem na parte inferior das vigotas. Quando dispomos da situação do Exemplo 2 a presença dessa circunstância poderá reduzir a necessidade de espaçadores mas é preciso verificar se isto será suficiente para a manutenção das armaduras posicionadas, especialmente considerando o apoio na treliça, sujeito a deformações mais facilmente do que no apoio sobre as lajotas.
POENARCO: Temos a utilização de três tipos de espaçadores utilizados nas obras, a saber: Os fabricados no próprio Canteiro de Obras, com argamassa ou concreto simples, muitas vezes oriundos de sobras; os fabricados pela indústria com material plástico e os fabricados por indústrias de concreto pré-moldado. Qual deles seria mais adequado em termos de garantir que através desses dispositivos não ocorreria por exemplo eventual infiltração de água que atingiria diretamente as ferragens?
ENG. EGYDIO: Particularmente prefiro os espaçadores de concreto industrializados em empresas dedicadas a esta produção e comercialização – não sei se as indústrias de pré-moldados são as que fabricam estas pequenas peças, nos parece mais um conjunto de produtos produzidos em pequenas fábricas de artefatos, com concreto de alto desempenho (fc > 40MPa) – que possuem mais qualidade e resistência. Os produtos feitos em obras não passam de improvisos, promovendo a porosidade superficial do concreto através de si mesmo e os de plástico, em sua maior parte, são frágeis e se deformam, não garantindo posicionamento das armaduras nem dimensões corretas dos cobrimentos.
POENARCO: O problema também não é agravado pelo desleixo dos profissionais envolvidos, no caso engenheiros, arquitetos tecnólogos e/ou técnicos no que concerne a correta fiscalização das atividades?
ENG. EGYDIO: O que mencionei acima sobre a falta de procedimentos e falta de diálogo dos Encarregados para com os operários está diretamente ligado à ausência de instruções e posicionamentos dos Profissionais que deveriam ensiná-los e fiscalizá-los, impedindo que a obra prossiga quando hábitos errados estão evidentes e prejudicando a qualidade. Mas é preciso que os Profissionais sejam orientados quanto a liderança e procedimentos de comando, conhecendo regras de relações humanas que ensinem o entendimento com a equipe, matérias inexistentes nos Cursos de formação profissional. Isto pode ser suprido por Cursos especializados, de curta duração, realizados nos próprios canteiros de obras, como deve ser a formação continuada de nossos profissionais.
POENARCO: Um dos objetivos de nosso Portal é a disseminação de conhecimentos técnicos, e com esta sua colaboração acreditamos estar contribuindo para tal finalidade, quando agradecemos sobremaneira pela oportunidade de suas explanações.
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Exatamente, Fábio, uma fiscalização eficaz e sistemática, de Qualidade, com profissional com conhecimento do métier, resolveria o problema.
Fiscalização eficaz e sistemática, essa a condição inexorável para evitar tanta patologia no segmento.
Muito bom esse artigo, realmente o que vemos por aí muitas das patologias são causadas por falta de fiscalização, desleixo no cuidado do espaçamento entre a ferragem e a forma, etc.
Essas não conformidades apresentadas são recorrentes em nossas obras, tanto de pequeno como médio e grandes portes. Os profissionais que fiscalizam os serviços são os principais culpados, isto quando o problema não é o total desconhecimento por parte destes. Tem também os profissionais que fazem “vistas grossas”, aqueles que normalmente tem o almoço pago pela empreiteira, aquele que espera seu “presentinho” no final do ano, etc.