..( Série Entrevistas Técnicas ).. IMPERMEABILIZAÇÃO

Entrevistada:  Arquiteta Elka Porciúncula  ( Recife – PE )

Entrevista realizada em 26/01/2015

Assunto:  Impermeabilização

Poenarco:  Arq. Elka,  problemas  relacionados  com  impermeabilização,  principalmente  em  edificações,  são  dos  problemas  mais  preocupantes  e  rotineiros.  A  que  se  deve  essas  ocorrências  que,  além  de  transtornos  resultantes  por  intervenções,  normalmente  implicam  em  empenho  financeiro  oneroso?

Arq. Elka:  Os elementos da  construção civil são, em sua composição, porosos e absorvem ou reagem a presença de água, faz parte da natureza física essa interação, além de que a água em suas diversas formas de apresentação consegue achar passagem para se deslocar e fluir, esse fato deve ser pensado ainda em projeto, procurando dar soluções em engenharia dessa possibilidade de contato com umidade, o que  não ocorre, somos carentes dessa previsão em projeto. O que temos na prática são soluções repetidas, às vezes ineficazes, pois não se aplica a necessidade que vai se apresentar, sem estudo prévio de indicação decorrente da exposição prevista. As ações de correções de patologias devido a infiltração são as das mais onerosas da construção civil, pois está relacionada muitas vezes a segurança estrutural e habitabilidade.

Poenarco:  Sabemos  que  a  mão  de  obra  disponível  no  mercado  está  longe  de  apresentar  a  qualificação  necessária  para  que  resulte  num  serviço  com  comprovada  qualidade.  Com  o  advento  da  NBR 16.280,  que  pelo  menos  nas  edificações  vem  a  exigir  um  responsável  técnico  mesmo  nas  pequenas  reformas,  poderemos  ter  uma  diminuição  em  serviços  relacionados  com  impermeabilização  mal  executada?

Arq. Elka: As Normas Técnicas da ABNT são importantíssimas  para sociedade em geral , para os projetistas ela disciplina procedimentos e desempenho, para os construtores suas responsabilidades de execução segundo os  projetos devidamente registrados e para os usuários suas obrigações de manutenibilidade  e uso devido do imóvel recebido. A Norma referida nos remete a reforma com ou sem acréscimo de construções e é uma atividade que precisa ser contratada a profissionais qualificados porque os resultados interferem na construção como um todo e até nos terrenos vizinhos, muitos proprietários ao solicitarem ou pensarem em reformar seus imóveis não estão atentos a patologias recorrentes da construção civil como  é  a infiltração, cabendo aos profissionais qualificados identificarem quando necessário a impermeabilização de determinadas áreas.

Poenarco:  Existe  alguma  razão  para  que  os  cursos  superiores,  de  tecnologia  e  técnicos  normalmente  não  possuam  a  disciplina  de  Impermeabilização,  uma  vez  que  sabe-se  que  com  a  mesma  haveria  um  preparo  e  conscientização,   e  consequentemente  maior  qualidade  na  execução  desses  serviços?

Arq. Elka:  Não. Essa disciplina deveria estar nos cursos de engenharia civil e arquitetura como matéria específica e obrigatória. Bem como nos cursos técnicos e formação de mão de obras qualificadas para os diversos sistemas de impermeabilização existentes.

Poenarco:  Temos  que  é  justamente  em  edificações  de  pequeno  e  médio  portes  que  os  problemas  de  impermeabilização  são  mais  recorrentes, principalmente pela numerosa  incidência  construtiva,  assim  como  pela  atuação  de  profissionais  sem  qualificação  técnica.  A  exigência  de  projeto de  impermeabilização  para  esses  tipos  de  obras  pelas  prefeituras  municipais  não  seria  um  benefício  aos  proprietários?

Arq. Elka: Infelizmente  não. Nas edificações de grande  porte como pontes e viadutos temos  ocorrências danosas e que atinge diretamente o dinheiro do cidadão, sem falar dos desvios  escabrosos das chamadas obras publicas. Mas  em certo ponto como  as  maioria das construções de  pequeno e médio porte são realizadas na informalidade, realmente essas patologias são recorrentes. As construções formais, realizadas por construtoras e incorporadoras não admitem mais erros previsíveis e projetos de impermeabilização e outros específicos, estão sendo incorporados aos seus procedimentos gerando uma execução planejada, compatibilizada e com  menor custo de execução, sem grandes desvios na planilha orçada. Isso também uniformiza os procedimentos e dirige responsabilidades em cada etapa de execução.  Os órgãos municipais devem deixar seus objetos licitatórios bem claros e definidos quanto a exigência de projetos e profissionais qualificados, mas também já está implícito na contratação de qualquer obra pública a qualidade da edificação e seu desempenho construtivo através de Normas Técnicas e da NBR 15575 que atinge principalmente as obras habitacionais, onde a existência de Projeto de Impermeabilização é cobrada.

Poenarco:  Nas  pequenas  obras,  tanto  de  construção  como  conservação  e  reformas,  o  proprietário  normalmente  evita  a  contratação  de  empresa  ou  profissionais  habilitados  para  execução  dos  serviços,  acaba  normalmente  o  pedreiro  e  seus  ajudantes  cuidando  de  serviços  diversos,  principalmente  de  impermeabilização  de  baldrames,  calhas  de  captação  de  águas  pluviais,  etc.,  sem  contar  que  muitos  proprietários,  mesmo  alheios  a  experiências  técnicas,  resolvem  eles  mesmos  atuar  no  metiê.  Somando-se  a  este  quadro  de  “não  conformidades”,  temos  ainda  que  os  mesmos  adquirem  os  produtos  para  a  finalidade  em  “lojinhas”  do  bairro  onde  normalmente,  o  balconista  (  também  em  regra  geral,  sem  qualificação  técnica  ),  desanda  a  proferir  uma  palestra  sobre  como  utilizar  o  produto.  Não  temos  aí um  círculo  vicioso  de  procedimentos  que  vai  condenar  a  edificação  a  apresentar  não  conformidades  a  curto  prazo?

Arq. Elka: Certamente, você descreveu bem como é, na prática, a informalidade do nosso mercado construtivo. E, dessa forma, como geralmente culpamos a nossa ineficiente mão de obra não qualificada pelos péssimos e onerosos resultados, quando não investimos em contratar profissionais qualificados para até as pequenas  obras, os resultados a serem atingidos ficam  nas expectativas de “vamos ver se dá certo” e isso é caro e desgastante.

Poenarco:  Essa  cultura  que  temos  no  país,  de  que  a  impermeabilização  não  necessita  de  projeto  e  procedimentos  definidos,    que  virão  a   evitar  o  aparecimento  de  não  conformidades  após  a  entrega  da  obra  resulta  em  custo  adicional  muito  elevado?

Arq. Elka: Essa cultura da falta de planejamento e  projetos está sendo discutida e difundida, resultados, custos e prazos precisam ser claros. Impermeabilização precisa ser discutida ainda na  elaboração do projeto de arquitetura e estrutura pois compromete decisões importantíssimas  a serem tomadas em seus  métodos construtivos e ainda temos as interferências nos demais projetos como paisagismo, instalações etc.

Poenarco:  Um  dos  objetivos  de  nosso  Portal  é  a  disseminação  de  conhecimentos  técnicos,   e  com  esta  sua  colaboração  acreditamos  estar  contribuindo  para  tal  finalidade,  quando  agradecemos  sobremaneira  pela  oportunidade  de  suas  explanações.

Arq. Elka: Fico feliz por participar dessas ações do Portal, pois é nas discussões de temas como este que aprendemos e melhoramos profissionalmente. Parabéns pelas ações.

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6 comentários

  1. Excelente artigo, não prever uma correta impermeabilização é certeza de problemas futuros na construção, e dependendo do caso, de transtornos para realização dos serviços e o custo a ser dispendido.

  2. Concordo com a explanação da autora, tudo passa pela mão de obra qualificada, mas, qualificada que fiscalize com rigor.

  3. Realmente mão de obra especializada é o problema em várias regiões do Brasil. A entrevista tocou num ponto interessante, as pequenas obras, que são infinitamente maioria, onde muitas vezes o material é até definido pelo comerciante da lojinha local. Eu concordo que as prefeituras deveriam exigir um projeto referente a impermeabilização, mas sabemos o quanto isso é um devaneio, se nem projeto estrutural exigem para pequenas obras, imaginem de impermeabilização. E assim as patologias proliferam… e com isso temos a comercialização de materiais impermeabilizante.

  4. Verdade, a disciplina Impermeabilização deveria constar nos currículos de cursos técnicos e de engenharia e arquitetura.

  5. Entrevista importante, a impermeabilização deficiente é uma das principais causas de patologias em construções.

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