( Série Artigos Técnicos) TRABALHAR NO EXTERIOR: DICAS PARA ENGENHEIROS E ARQUITETOS

Estudantes e profissionais de todas as idades me perguntam como fazer para conseguir trabalhar no exterior como engenheiro ou arquiteto. A resposta não é simples, mas posso dar algumas dicas e fazer algumas recomendações.
Vou começar falando da parte boa e em seguida da parte difícil.
ASPECTOS POSITIVOS
ASPECTOS NEGATIVOS
Idioma
Currículo
Aprendizado
Cultura
País
Solidão
Cultura local
Família
 
Aspectos positivos de se trabalhar no exterior
Idioma
Em primeiro lugar, vem a questão do idioma. Engajado no escritório de uma empresa ou no canteiro de obras é certo que haverá o desenvolvimento do domínio do idioma de trabalho, às vezes até de mais de um idioma, como é o caso de se trabalhar no exterior num empreendimento cuja língua de comunicação oficial é o inglês, mas para construtora espanhola.
Anote aí: por mais que você tenha estudado inglês, trabalhar com termos técnicos, escrever cartas e fazer relatório exige mais do que o básico.
 
Currículo
Em segundo lugar, o currículo do engenheiro ou do arquiteto se enriquece muito. Basta você pensar num currículo que chegue a suas mãos:
  1. Engenheiro A – trabalhou os últimos dez anos construindo ferrovias no Brasil;
  2. Engenheiro B – trabalhou os últimos dez anos construindo ferrovias em três países.
A qual deles varia mais importância? Imediatamente ao segundo, porque intuitivamente damos mais peso a quem já tenha tido a oportunidade de trabalhar no exterior, embora o Engenheiro A possa ser mil vezes melhor…
 
Aprendizado
Em terceiro lugar, o aprendizado técnico: novos métodos construtivos, equipamentos diferentes, tipos de contrato, formas de pagamento, sistemas laborais, etc. A cabeça da pessoa se abre na certa!
 
Cultura
Em quarto lugar, vem a cultura. Ao se trabalhar no exterior, a absorção de cultura é enorme.
O profissional aprende sobre a história, geografia, gastronomia, religião, costumes locais, folclore e se dá a oportunidade de fazer coisas que não faria no Brasil, como assistir a uma ópera (não é chato, não!) e fazer passeios inusitados. Para mim, esta é a parte que mais me encanta!
 
Aspectos negativos de se trabalhar no exterior
País
Em primeiro lugar, vem a questão do país. A noção de trabalho no exterior vem sempre acompanhada de imagens glamorosas de obras magistrais em lugares bonitos como Nova York ou Paris. Mas não é bem assim! Não mesmo.
Quando fui para os EUA, em 1992, vivi numa situação bastante diferente daquela que encontrei na África do Sul, em 1996.
Vários colegas meus foram trabalhar em Angola nessa época. Salário ótimo, comunicação precária e vulnerabilidade à malária e outras doenças.
A depender do tipo de obra e empresa em que você se insira, a chance de fazer obra em lugar bonito é baixa. Imagine que você vá construir uma estrada num país da África.
As condições são difíceis: logística complexa, residência no canteiro de obras, costumes tribais, focos de guerra não muito distantes da obra, etc. Eu já encarei isso, mas não é todo mundo que tem estômago para uma vida puxada.
 
Solidão
Em segundo lugar, destaco a solidão. Não é toda empresa que contrata o profissional e transfere sua família junto.
Em grandes construtoras, normalmente as famílias iam junto (se o profissional fosse casado), mas hoje em dia esse benefício está acabando.
Quando eu digo solidão, o ponto não é apenas morar sozinho; é só ter uma “baixada” para o Brasil a cada 60-90 dias, é não conseguir se entrosar com a população local e bater um banzo enorme.
Nessas horas uma pessoa mais aventureira levava alguma vantagem, porque se expõe mais. Se a obra for numa cidade movimentada, com opções de cultura e lazer, esse aspecto negativo reduz-se bastante.
 
Cultura local
Em terceiro lugar, a cultura local. Eu já trabalhei em países da África e no Egito. Situações bem diferentes, costumes distintos.
A cultura local às vezes é cruel, sobretudo com as mulheres. Imagine uma arquiteta brasileira ir trabalhar no Catar, onde se fala árabe e a mulher não desfruta do mesmo grau de liberdade que um homem!
 
Família
Em quarto lugar, a família. Quando eu morei no Egito, minha mulher teve que sair do emprego que tinha. Outros colegas mudaram de país três vezes em cinco anos.
Já imaginou a adaptação dos filhos em tantas escolas de idiomas diferentes? Vi um filme esses dias em que o chefe perguntava a um funcionário recém-contratado, que vinha de outro lugar, como ele estava. A resposta foi: “happy wife, happy life” (esposa feliz, vida feliz).
 
Salário
E onde entra o salário? Nos dois lados. Pode ser bom ganhar em dólar, que é moeda forte. Melhor ainda se o trabalho for num país onde não se paga imposto sobre o salário.
Por outro lado, a tributação em boa parte dos países facilmente vai a 30-40% e a empresa não paga moradia — aí você vai morar bem longe do trabalho, e mesmo um salário de 10 mil dólares por mês não dá para você economizar muita coisa.

3 comentários

  1. Concordo em gênero, número e grau, estive trabalhando na Irlanda e passei por situações mencionadas no artigo.

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