Adaptação  José  Luiz  Mendes  Gomes

Numa  cidadezinha  do  interior,  Pedro  e  Antonio  eram  os  únicos  engenheiros  da  cidade,  todo  serviço  que  aparecia  ou  era  executado  por  um  ou  por  outro,  só  que  havia  uma  diferença  entre  os  dois:  Enquanto  Pedro  executava  seus  serviços  com  segurança  e  qualidade,  Antonio  “não tava  nem  aí”:  Assinava  plantas  “no  escuro”,  não  fazia  visitas  nas  suas  obras,  não orientava  a  peãozada,  etc, etc, etc  (  como  é  sabido  que  existe  muitos  por  aí  ).  Já  havia  até  desabado  uma  obra  que  felizmente  não  fez  vítimas.  Sua  fama  não  era  lá  das  muito  boas,  mas  como  ainda  existem  clientes  que  na  hora  do  orçamento optam  pelo  mais  barato…  Bem,  fato  é  que  quis  o  destino  que  ambos  morressem  no  mesmo  dia. Quando  chegaram  ao  Céu,  o síndico  São  Pedro  já  os  esperava:

_ Qual  seu  nome?

_  Pedro

_  Ok,  xará,  um  momento…

São  Pedro  folheia  o  book  celestial,  constata  a  vida  pregressa  do  novo  hóspede  e  dá  a  decisão:

_  Bem,  ganhastes  o  paraíso.  Leva  esta  túnica  com  “fios  de  ouro”.  Podes  entrar.

Volta-se  para  o  outro,  que  aguardava:

_  O  teu  nome?

_  Antonio,  senhor.

_  Ah,  sim,  você  é  o  engenheiro  que  morreu  no  mesmo  dia  que  esse  que  acabou  de  entrar?

_  Sim  senhor,  eu  mesmo.

_  Ok,  um  momento  por  favor.

São  Pedro  pega  o  book  celestial,  folheia  por  instantes  e  decide:

_  Bem,  podes  entrar.  Ganhastes  o  paraíso.  Leva  esta  túnica  de  “linho”…

O  engenheiro,  um  tanto  indignado,  interpela  Pedrão:

_  Desculpe,  mas  deve  haver  algum  engano.  Eu  sou  Antonio,  o  engenheiro!

_  Sim,  meu  filho,  eu  sei,  está  tudo  registrado  no  book.  Ganhastes  o  paraíso.  Usarás  esta  túnica  de  linho.

_  Não  pode  ser!  O  senhor  tem  registrado  aí  o  que  esse  que  o  senhor  deu  a  túnica  com  fios  de  ouro  fazia  lá  na  Terra?  Era  um  desastre!  Um verdadeiro  perigo  para  a  sociedade.  Os  clientes  que  contratavam  serviços  dele  normalmente  viviam  sob  pesadelos  depois  da  construção  acabada,  tinham  que  recorrer  à  intervenções  para  que  a  obra  não  caísse,  acabavam  gastando  mais.  E  eu?  Que  sempre  fazia  tudo  certinho?  Ia  na  obra todo  dia,  fiscalizava,  não  admitia  substituição  de  materiais  sem  minha  concordância…   Como  é  que  ele  recebe  túnica  com  fios  de  ouro,  e  eu  recebo  essa,  de  simples  linho?

_  Ok,  ok!  Eu  lhe  explico,  não  há  nenhuma  “não  conformidade”   na  decisão,  qualitativamente  falando.   É  que  com  o  avanço  da  globalização,  o  mundo  vem  mudando  cada  vez  mais…  e  aqui  no  Céu  não  poderia  ser  diferente.  Por  ordem  superior,  e  você  deve  saber  de  quem  estou  falando,  logicamente,  passamos  a  adotar  uma  gestão  mais  profissional  para  recepcionar  as  novas  almas…

_  Não  entendo –  falou  o  engenheiro,  balançando  a  cabeça  e  desdenhando  a  túnica  de  linho.

_  Eu  explico!  Já  tinha  ouvido  falar  de  Gestão  por  Resultados?  Agora  nos  orientamos  por  objetivos,  e  observamos  que  nos  últimos  anos,  cada  vez  que  tu  entregavas  uma  obra,  as  pessoas  dormiam  tranqüilas,  e  cada  vez  que  esse  outro  engenheiro  que  subiu  com  você  entregava  uma  obra, as  pessoas  rezavam  muito.  É  isso.  Resultado  é  o  que  importa!!! 

 

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