Tecº José Luiz Mendes Gomes
Blefadores encontramos em todas as atividades, e no universo tecnológico e construtivo não é diferente. Já houve quem considerasse o blefe uma arte que poucos dominam. Reconhecer um blefador requer muita astúcia, segundo estatísticas, a maioria dos mortais é presa fácil quando cai na lábia de um. Normalmente, o blefador profissional ao trocar as primeiras palavras com sua vítima, aliás, com seu interlocutor, ele centra o olhar bem no meio de sua testa, milimetricamente falando, com um semblante suave. Há que saber, que a versão feminina da arte de blefar é eminentemente mortífera, ela centrará o olhar bem dentro de seus olhos, aí amigo, bau, bau, na casa do Nicolau. Já era.
Há blefadores tanto entre colaboradores em cargos de chefia como em cargos subalternos, mais estes últimos são em maior número por motivos óbvios. No universo tecnológico e construtivo já foram observados diversos ataques de blefadores, onde citamos alguns:
- Blefe em entrevista de emprego: Normalmente o blefe parte do entrevistador, mas temos também casos que o blefe tenha partido do entrevistado, aí é uma questão de habilidade blefonística. Normalmente, quando o entrevistador toca no assunto da pretensão salarial, ele aplica um blefe tipo: “Sua pretensão está acima de nossa faixa salarial”, ou então: “A empresa não pode pagar esse salário, nosso funcionário mais antigo ganha menos que essa sua pretensão”, ou ainda: “Olha, temos mais quatro pretendentes selecionados, todos eles pedindo em torno de 20% menos que sua pretensão”.O blefe por parte do candidato normalmente está no currículo ( o papel aceita tudo, he,he,he ). Como no ramo construtivo normalmente o empregado corre o trecho de norte a sul, de leste a oeste, aí ele manda ver no currículo, tipo: “Fui supervisor técnico numa construtora lá em Quixeramobim”, ou então: “ Fui orçamentista de estradas numa obra em Patuá do Cabrobó”. Se o entrevistador contra-ataca e pede a Carteira de Trabalho é fácil, neste ramo é muito comum a perda ou extravio. Nesse caso, o embate vai depender da astúcia de cada blefador para ver quem sai em vantagem, é nesse momento que cada um lança mão de seu potencial blefante.
- Tem também o “Blefador Oportunista”, se bem que isto parece mais uma redundância, pois um dos quesitos para ser um blefador é ser PHD em oportunismo. Esse tipo de blefador aproveita sempre os acontecimentos do momento, por exemplo: Quando a economia anda mal no país e o desemprego corre solto, como na década de 80 por exemplo, o coitado do empregado vai solicitar um aumento e recebe a resposta mortífera: “Olha, a “maré não tá prá peixe”! A empresa tá sem contratos, vai ter que reduzir custos e até reduzir o quadro de colaboradores”. Aí, somente se o colaborador for um exímio blefador para anular esse outro blefe. E tem casos que já ocorreram. Por exemplo, com um blefador desenhista de uma construtora, era o único desenhista, prata da casa, tinha iniciado na empresa, sabia tudo. Contra-atacou com um blefe também mortífero: “Sabe, é que tem uma empresa concorrente me convidando para trabalhar nela e o salário é maior, então”… É lógico que nesse caso o colaborador já sabia que se ele saísse da empresa ia ser o caos, a empresa estava sem conseguir novos contratos mas os que tinha estavam em andamento. E não podiam parar. E ele era o único desenhista, até conseguir outro, fase de entrevista, de admissão, adaptação, etc., “a vaca poderia ir pro brejo”. Então…
- Tem também o “Blefe Psicológico”: Bem, na verdade, todo blefe vem carregado de um potencial de psicologia. Mas esse em especial foi observado numa empresa. O engenheiro tinha um prazer insano de aplicar o blefe em cima dos colaboradores. O que ele fazia? Monitorava tudo, sabia todas particularidades dos colaboradores. Quando ficava sabendo que existia algum funcionário de sua equipe descontente, ameaçando pedir aumento, etc., chamava-o em sua sala, atendia-o respeitosamente, mandava sentar-se confortavelmente, mandava a secretária trazer uma água ou cafezinho, e partia para o ataque, mas com a doçura de um carneirinho: E então, amigo, tudo bem? Como vai a família, tudo em ordem? E a prole? Com saúde, estudando, tudo correndo bem? Tem sido útil o convênio médico e dentário que a empresa contratou para vocês? O Vale-Refeição está de acordo? Gostou da festa de confraternização que a empresa fez pra vocês no final do ano? Normalmente depois dessa recepção, o colaborador já está praticamente anestesiado, psicologicamente falando. Seu subconsciente repentinamente trabalha a “milhão por micro-segundos” e ele, até sem saber porque responde: Sim, sim! Tudo certo com minha família, comigo também está tudo bem, estou satisfeito aqui na empresa…
É aí que vem o blefe mortífero:_ Éééééé!!!…, mas a empresa não anda nada satisfeita com seu desempenho nos últimos meses…
Após esse “tiro de misericórdia psicológico”, normalmente o coitado praticamente entrega os pontos. Daí prá frente…
- E o “Blefe-Despachante”? É dos mais utilizados por Diretores, Gerentes, Chefias e afins: Normalmente, quando se está atendendo algum colaborador na sala e já está querendo se livrar do mesmo, lança mão de uma das opções seguintes:
- Primeiro, começa a fazer “mise-en-scène” arrumando objetos em cima da mesa e falando com o colaborador ao mesmo tempo, ou pega sua pasta e simula estar procurando algo que nunca acha, já dando a conotação que não há nada mais importante para conversar, ou que o mesmo já está sendo objeto de incômodo no ambiente, he,he,he;
- Tendo falhado a primeira tentativa, lança mão do “plano b”. Pede licença, liga e chama a secretária na sala e fica delegando-lhe infindáveis atribuições, normalmente até sem necessidade, só para impressionar e ver se o colaborador “se toca”, ou atenta para o famoso “se mancol”
- Se “faiá”, o jeito é passar para o “plano c”. Pede licença, diz que esqueceu de um detalhe para a secretária, vai até a mesma e pede-lhe para dali a 2 minutos ligar-lhe. Volta à sala e logo toca o telefone. Atende, agradece a secretária que desliga, mas ele fica com o telefone mudo na “oreia”, como se a secretária tivesse passado uma ligação e ele agora estivesse com outra pessoa do outro lado da linha. É nesse momento que vem o “desfecho fatal”, ele coloca a mão sobre o bocal, e fala ao colaborador que é o Presidente da empresa, que precisaria atendê-lo e encerra a conversa apontando-lhe a porta, com o colaborador já levantando e saindo, com sua auto-estima descendo e indo se aconchegar no “fundo da Zorba”, hi,hi,hi…
É claro e evidente que tem aqueles que são mais práticos, não aplicam nenhuma dessas opções, simplesmente quando querem despachar o colaborador, levantam-se, postam-se do lado do mesmo, estendem-lhe a mão e já vai conduzindo-o para a porta, entre tapinhas nas costas e promessas de uma conversa com mais calma ( que normalmente cai no esquecimento, he,he,he ).
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